Cerca de 200 pessoas foram assassinadas neste ano em Goiânia por estarem de alguma forma envolvidas com drogas. Isso significa que quase 80% dos 254 crimes de morte ocorridos até o início da noite de ontem têm relação direta ou indireta com o tráfico de drogas. As três últimas vítimas, mortas na noite de quarta-feira e madrugada de ontem em diferentes setores, segundo a polícia, eram usuárias de drogas. "Todos eram desempregados, estavam em locais ermos e eram viciados em droga", afirmou o delegado Jorge Moreira da Silva, titular da Delegacia de Investigações de Homicídios.
Jorge Moreira conta que Danilo Adriano Teófilo da Cruz, de 28 anos, era usuário de drogas e foi morto ao cobrar uma dívida às 21h30 de quarta-feira, na Rua SC-53, no Bairro São Carlos. Dois homens se aproximaram dele, que estava armado com um facão e uma faca, e assim que ele cobrou a dívida, um deles, que seria Eliezer Rodrigues Ferreira Silva, atirou três vezes à queima-roupa. Danilo Adriano já havia sido preso por roubo e receptação.
Sebastião Alves Neto, de 22, foi morto com um tiro no peito e outro na mão, às 2h20 de ontem, na Avenida Guaicurus, no Setor Progresso. De acordo com a polícia, era usuário de crack havia dois anos e tido pela família como um rapaz desequilibrado e agressivo, tendo já agredido o próprio pai, a quem ameaçou de morte. Ele já havia sido preso por roubo.
Thiago Pereira Soares, de 26, foi morto a tiros, às 2h25 de ontem, na Avenida Engenheiro Fuad Rassi, no Setor Crimeia Leste. Ele havia saído do regime semiaberto recentemente e era usuário de drogas, com passagem por roubo, de acordo com os registros policiais. Ele estava em um bar quando dois homens em um carro preto passaram e atiraram contra ele. "A maioria das mortes está ligada à droga. É uma pandemia. Não é um caso de Goiânia. Acontece no mundo todo", disse Jorge Moreira.
Ao assumir recentemente a Secretaria de Segurança Pública, a delegada Renata Cheim, que já foi titular da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), disse que a gestão dela será marcada pelo combate ao tráfico e admitiu que o aumento da venda e consumo de drogas aumenta a criminalidade como um todo.
Jorge Moreira explicou que por causa do tráfico outros crimes são cometidos. O usuário torna-se pequeno traficante para manter o próprio vício e quando não o faz, pratica furtos, roubos e até estupros. Outra modalidade nova de tráfico é pelo sistema de consignação.
O usuário pega do traficante uma quantidade de droga, principalmente o crack, usa e vende para acertar depois com o fornecedor. "Ocorre o homicídio, entre outras situações de desacerto, quando o usuário muda de traficante ou quando fica devendo", comentou.
Titular da Denarc desde ontem, o delegado Deusny Aparecido Silva Filho, ex-titular do Grupo Antiassalto a Bancos (GAB) da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), disse que vai fazer uma parceria com a Delegacia de Homicídios e com a Delegacia Estadual de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos Automotores. "Sabemos que o tráfico e o uso de drogas fomentam outros crimes e vamos combater isso", disse.
Ao assumir a Denarc, Deusny conta com o apoio da secretária de Segurança Pública. Deusny revela que a missão não é fácil, mas diz que dará continuidade ao trabalho desenvolvido pela própria Renata Cheim na delegacia.
Até o fim de junho deste ano, a Denarc havia prendido em flagrante 205 pessoas e indiciado 151 usuários de drogas somente em Goiânia e apreendido mais de 254,2 quilos de drogas, entre maconha, cocaína em pó, em pasta e em pedras de crack.
De acordo com a Superintendência do Sistema de Execuções Penais (Susepe), da Secretaria de Segurança Pública, 22% dos homens presos atualmente em Goiás são acusados ou cumprem pena por tráfico. Na população feminina em cárcere atualmente no Estado, o número é bem maior, de 62%.
Rosana Melo
Fonte: O Popular
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