Departamento federal de investigação fornecia plano de ataque e material a jovens muçulmanos para encenar um falso desmantelamento de planos terroristas. Atualmente, o órgão responde a processo por parte de uma mesquita situada na Califórnia
Os anúncios do FBI (Departamento Federal de Investigação) sobre o desmantelamento de planos terroristas possui duas versões: a oficial, que serve para deslumbrar a imprensa; e a estarrecedora, como classificou o jornalista Tom Castello, do Bureau of Investigative Journalism. Conforme a reportagem, o próprio FBI infiltra agentes em comunidades islâmicas, incluindo as pacificas, para encorajar novos terroristas, entre os quais muitos são adolescentes. A formação terrorista fornecida pelo departamento inclui plano de ataque e até o fornecimento de material.
Castello teve acesso a essas informações por meio de um documentário de rádio, o “This American Life”, transmitido em mais de 500 estações nos EUA. O trabalho jornalístico foi produzido pela Chicago Public Media e conta a chocante história de tramas armadas pelo FBI.
Segundo o analista Glen Greenwald, consultado pelo jornalista do Bureau of Investigative Journalism e que participou da produção do documentário, esse tipo de ação do FBI se dá “repetidamente”. “Eles se infiltram em comunidades muçulmanas para achar recrutas, os convencem a realizar ataques, fornecem dinheiro, armas e o know-how para levar seu plano adiante – apenas para saltar heroicamente no último instante, prender os supostos agressores que o FBI havia criado, e salvar uma grata nação de uma trama orquestrada... pelo próprio FBI”, relata.
Operação frustrada
Um desses casos ocorreu em 2006, quando o departamento recrutou o islâmico Craig Monteilh, considerado na região um marginal de “quinta categoria”. Ele, pelos planos do FBI, deveria se infiltrar em uma mesquita em Orange County, na Califórnia, com a missão de atrair homens da mesquita para a sua academia. O objetivo do FBI era, por meio Monteilh, recrutar mais islâmicos para um ataque terrorista cujos discursos encorajadores tinham como base a jihad (palavra que em árabe corresponde a esforço) de Osama Bin Laden.
A referida missão, batizada de Operação Flexão, esbarrou em percalços um tanto inusitados para o FBI: os recrutas de Monteilh estavam mais interessados em jogar videogames do que na academia. Dois deles, Ayman e Yassir, começaram a andar com Monteilh, que usava o falso nome de Farouk para aliciá-los. Os jovens, contudo, começaram a estranhar a insistência de Monteilh, ou Farouk - como o conheciam, em falar de Osama Bin Laden sempre que uma oportunidade aparecia.
Para frustração de Monteilh e tranquilidade do FBI, Ayman e Yassir não demonstravam o menor interesse em tratar de terrorismo ou jihad e tão logo Monteilh abordou a possibilidade de ataques à bomba foi denunciado por eles. Como esperado, os jovens recorreram ao FBI, concluindo com êxito mais um plano de desmantelamento de ataques terroristas.
O FBI, diante das reportagens, se negou a comentar os fatos e atualmente está sendo processado por membros da mesquita em que os dois jovens foram aliciados por Monteilh. Neste contexto, Craig Monteilh encaixa-se como principal testemunha contra seus empregadores.
Operações concluídas
A atuação do FBI em relação aos mulçumanos não para por aí. Em 2011, a Associated Press ganhou o prêmio Pulitzer de reportagem investigativa depois de mostrar uma operação secreta do departamento que envolvia a espionagem maciça em Nova Iorque. O FBI monitorava comunidades muçulmanas naquela cidade sem que houvesse qualquer evidência de atividades terroristas.
Alguns supostos planos terroristas que tiveram grande repercussão: em 2009, Hosam Maher Husein Smadi arquitetou a destruição de um arranha-céu em Dallas e Faruque Ahmed esboçou um ataque ao metrô de Washington; em 2010, Mohamed Osman Mahamud planejou detonar uma bomba em um evento natalino lotado; e em 2011, Rezwan Ferdaus foi preso depois de planejar atacar o Pentágono com aviões de controle remoto cheios de explosivos.
*Com informações da Agência Pública
Ketllyn Fernandes
Fonte: Jornal Opção
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