domingo, 9 de outubro de 2011

Indiferença à violência, não!

O artigo “Indiferença à violência, não!”, de autoria do diretor-tesoureiro do Conselho Federal da OAB, Miguel Cançado, foi publicado na edição do dia 28/09/2011, do jornal O Popular. Confira:



De novo! Pego o jornal O Popular logo cedo e nem preciso abri-lo, pois a manchete de capa já é bastante para me indignar, assustar, provocar a vontade de sair às ruas pedindo, em alto e bom som, que algo seja imediatamente feito. O tema é o novo recorde de homicídios em Goiânia.

Mas, estranho, muito estranho, é que ao circular por uma cafeteria, passar por alguns outros lugares movimentados da cidade no início da manhã de segunda-feira, não vejo a repercussão que esperava, não sinto nas pessoas a mesma sensação de assombro que me domina. Tentei falar do assunto de uma forma profunda, mas não consegui. Nossas ações são mais de apatia que de indignação ou revolta. Outros temas dominam o interesse geral!

Diante desse cenário de início de semana fico, então, a me perguntar: será que estou errado em querer pensar quais as soluções e quais as atitudes devemos tomar? Será que exagero nessa minha inquietação? Afinal, ficar sabendo que nossa querida capital atingiu números iraquianos de uma guerra silenciosa e cruel, e que vitima principalmente jovens, parece não ter grande importância para as pessoas diante da crise econômica mundial ou dos resultados do campeonato brasileiro do final de semana.

Desigualdades sociais, tráfico de drogas e seus intermináveis acertos de contas. Estes são, conforme temos visto, os móveis principais dessa escalada cada vez mais crescente. Segundo o texto da reportagem a que me refiro, o "tráfico e o uso de drogas, presentes em todos os bairros e diferentes classes sociais, são os principais motivadores dos assassinatos em Goiânia". Quem o diz é a própria Polícia Militar.

A Constituição Federal, tão pródiga em direitos e garantias, logo em seu preâmbulo, fala da instituição de um Estado democrático, destinado a assegurar a todos a liberdade, a segurança e a harmonia social. Ocorre que as estatísticas mostradas em maio e setembro são a demonstração clara de que não tem sido assim. Sou, assim, contrariado, mas forçado a concluir: esse Estado pensado pelo legislador constituinte, ao que se vê, cada dia mais se transforma numa quimera, num ideal inatingível.

Mas, e daí, se o meu time ganhou ou perdeu no domingo ou se o dólar dispara em desabalada carreira? E daí se a maioria de nós ainda não foi atingida pela dor da perda?

Sem querer ser pueril ou leviano na minha indignação, mas ainda que o sendo, penso que há de surgir caminhos a serem trilhados para combater esta situação e o simples aumento do número de delegados em determinada unidade policial não me parece suficiente para que, de fato, o quadro seja revertido.

Segundo Rui Barbosa, "a violência é mãe da violência". Pois é! E até quando iremos ficar todos às portas desta maternidade chamada Goiânia vendo a mãe violência gerar novos e indesejados números?

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