segunda-feira, 27 de maio de 2013

Soberania dos Estados em risco, qualquer Ministro pode acionar a FNSP para atuar nos Estados

Força Nacional é usada para funções da Polícia Federal 


Criada em 2004 pelo Planalto para apoiar Estados em crise na segurança pública, a Força Nacional de Segurança (FNS) vem sendo usada cada vez mais para suprir deficiências da Polícia Federal. 

Ações da alçada da PF, como patrulha de fronteiras, combate a crimes ambientais e proteção a testemunhas, estiveram entre as operações mais recorrentes da FNS nos últimos cinco anos. 

Os dados constam de relatório das operações da FNS obtido pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação. 

Das 123 operações realizadas pela FNS de novembro de 2004 a abril deste ano, 33 (27% do total) foram em apoio à PF, a maioria delas no Norte do país. 


Editoria de Arte/Folhapress

No início, como forma de assegurar a autonomia dos Estados, somente governadores podiam acionar a FNS. Em 2008, contudo, o Ministério da Justiça também autorizou órgãos federais a solicitá-la.

Para Jones Leal, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, a FNS está sendo usada para tapar buracos da atuação da PF, sobretudo nas fronteiras.

"Nossas atribuições legais estão sendo usurpadas, e as polícias dos Estados de origem ficam desfalcadas", afirma o sindicalista, que defende mais contratações na PF.

O governo federal, que coordena as operações da FNS, paga diárias de R$ 200 em média aos policiais da Força, que continuam a receber salário nos Estados.

A secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, diz que a FNS não substitui a PF, mas apenas dá apoio no policiamento.

Questionado sobre a falta de efetivo e o papel das parcerias com a Força Nacional, o comando da PF não respondeu. Segundo a Federação dos Policiais Federais, a PF tem cerca de 12 mil servidores no país --em São Paulo, só a PM tem 88,7 mil homens.

A Força Nacional dispõe de um efetivo flutuante de cerca de 1.300 policiais civis e militares, bombeiros e peritos.

Em março deste ano, um decreto presidencial ampliou novamente a possibilidade de acionamento da FNS --ministros agora podem pedir apoio.

O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) já usou o mecanismo, por exemplo, para conter protestos de trabalhadores e ativistas nas obras da usina de Belo Monte (PA).

A secretária Regina Miki afirma que a ampliação dos "chefes" da FNS não afetará a soberania dos Estados.


Reynaldo Turollo Jr

Fonte: Folha de São Paulo

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Goiânia piora desempenho e aparece como a 34ª cidade mais violenta do mundo


Instituição mexicana divulgou a lista com as cidades mais violentas do mundo, tendo como base dados de 2012. Com taxa de 42 homicídios para cada 100 mil habitantes, a capital goiana caiu seis posições em comparação ao levantamento de 2011


Um estudo divulgado pela instituição mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal coloca Goiânia como a 11ª cidade mais violenta do país e a 34ª do mundo. A pesquisa usa dados referentes ao ano de 2012 e mostra que houve piora nos índices de homicídios da capital goiana em relação ao ano anterior, 2011, quando a cidade ocupava a 40ª colocação.

As outras cidades brasileiras que fazem parte do ranking das 50 mais violentas do mundo são Maceió, João Pessoa, Manaus, Fortaleza, Salvador, Vitória, São Luiz, Belém, Cuiabá, Recife, Curitiba, Macapá, Belo Horizonte e Brasília. A capital Federal é a única que não constava no levantamento anterior e agora aparece na 49ª posição.
Apesar de as cidades brasileiras ocuparem boa parte do ranking, a comparação com os dados de 2011 revela melhora no quadro geral do país. Em contraponto a Goiânia, que perdeu posições, várias outras melhoraram seus índices. É o caso de Maceió, que saiu da 3ª posição para a 6º; Belém de 10ª para 26ª; Curitiba de 39ª para 42ª; Macapá de 36ª para 45ª; e Belo Horizonte, de 45ª para 48ª.

O levantamento indica que Goiânia teve, em 2012, uma taxa de 42,01 homicídios para cada 100 mil habitantes. Confira o ranking:

1. San Pedro Sula Honduras 
2. Acapulco México 
3. Caracas Venezuela
4. Distrito Central Honduras 
5. Torreón México 
6. Maceió Brasil
7. Cali Colombia 
8. Nuevo Laredo México 
9. Barquisimeto Venezuela 
10. João Pessoa Brasil 
11. Manaus Brasil
12. Guatemala Guatemala 
13. Fortaleza Brasil 
14. Salvador Brasil 
15. Culiacán México 
16. Vitória Brasil 
17. New Orleans Estados Unidos
18. Cuernavaca México 
19. Juárez México
20. Ciudad Guayana Venezuela 
21. Detroit Estados Unidos 
22. Cúcuta Colombia 
23. São Luís Brasil 
24. Medellín Colombia
25. Kingston Jamaica 
26. Belém Brasil 
27. Cidade do Cabo África do Sul
28. Cuiabá Brasil
29. Santa Marta Colombia 
30. Recife Brasil 
31. Valencia Venezuela 
32. Chihuahua México 
33. San Juan Puerto Rico
34. Goiânia Brasil 
35. Puerto Príncipe Haiti
36. Victoria México 
37. Pereira Colombia 
38. Nelson Mandela Bay África do Sul
39. Maracaibo Venezuela 
40. ST. Louis Estados Unidos
41. Baltimore Estados Unidos 
42. Curitiba Brasil 
43. Oakland Estados Unidos 
44. San Salvador El Salvador 
45. Macapá Brasil 
46. Durban África do Sul
47. Monterrey México 
48. Belo Horizonte Brasil 
49. Brasília Brasil 
50. Barranquilla Colombia 


Thiago Burigato
Fonte: Jornal Opção

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Polícia Civil do Rio de Janeiro lança cartilha de prevenção à pedofilia





Iniciativa desencadeada para o Dia Nacional do Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, 18 de maio, a Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAVlançou a cartilha virtual “A criança e o adolescente – quais medidas devemos tomar para evitar que sejam vítimas de pedofilia?”. O documento tem como objetivo informar e orientarmos pais de como perceber e evitar que menores de idade sejam vítimas de pedofilia.

cartilha foi inspirada no livro “Marianinha: a menina que botou a boca no trombone”, escrito pelo policial e psicólogo da DCAV, Emerson Brant. Ele é o responsável por ouvir os menores e verificar comportamentos que possam caracterizar o abuso sexual.

Para visualizar a cartilha, clique aqui .



Fonte Site da PCRJ

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Comandante da PM acusa Garotinho de tentar comprar seu silêncio


O comandante da PM do Rio, coronel Erir Costa Filho, acusou o deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) de tentar comprá-lo na época do governo Rosinha. A afirmação foi feita durante audiência pública na Câmara dos Deputados.


— O coronel Erir disse que não tem amnésia. Ele mantém as afirmações que ele fez a mim de que Chiquinho da Mangueira era integrante do tráfico da Mangueira? — perguntou Garotinho.

— O senhor vai ver que não tenho amnésia. Quando fui ao seu gabinete, o senhor tremeu. Não falei que ele era traficante. Falei que ele foi ao meu gabinete pedir para não fazer operação na Mangueira, por estar sendo ameaçado por traficantes. Eu disse a ele "Quero que o senhor se dane". O senhor quis me comprar oferecendo o comando do Batalhão Rodoviário e dando tudo que eu pedisse para me calar. O senhor não fez isso? — devolveu Erir.

— Não — respondeu Garotinho, no ato.

— Então, o senhor tem amnésia — rebateu Erir.

Fonte: O Globo

segunda-feira, 6 de maio de 2013

PEC 37 AUMENTA O PODER DA POLÍCIA CIVIL. A POLÍCIA MILITAR É CONTRA.


CONSELHO NACIONAL DE COMANDANTES GERAIS DAS POLÍCIAS MILITARES E CORPOS DE BOMBEIROS MILITARES (CNCG-PM/CBM)

NOTA PÚBLICA

O CONSELHO NACIONAL DE COMANDANTES-GERAIS DAS POLÍCIAS MILITARES E CORPOS DE BOMBEIROS MILITARES (CNCG-PM/CBM) se manifesta pela não aprovação da Proposta de Emenda Constitucional nº 37/2011, em trâmite na Câmara dos Deputados, com o objetivo de esclarecer à sociedade brasileira sobre os riscos representados pela referida alteração constitucional. 

Caso aprovada, a PEC 37 irá restringir a ampla apuração das infrações penais. A exclusividade da investigação criminal a um único órgão constitui-se em duro golpe contra as instituições democráticas, em diversas investigações essenciais ao interesse da coletividade, que são fundamentais para o combate eficaz da impunidade que grassa no País.

Quanto mais instituições, cuja missão precípua seja garantir a transparência no trato com a coisa pública e a segurança da população, melhor para coletividade em sua incessante luta contra o crime.

Modelo constitucional que confere monopólio da investigação criminal a uma única instituição representa o enfraquecimento do Estado Democrático de Direito. Desta forma o CONSELHO NACIONAL DE COMANDANTES-GERAIS DAS POLÍCIAS MILITARES E CORPOS DE BOMBEIROS MILITARES (CNCG-PM/CBM) expressa seu apoio pela não aprovação da PEC 37 e solicita aos Parlamentares Federais que manifestem voto contrário a essa proposição.

CORONEL PMSC NAZARENO MARCINEIRO
Presidente do Conselho Nacional de Comandantes-Gerais das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares (CNCG-PM/CBM)


Fonte: Blog Abordagem Policial

domingo, 5 de maio de 2013

Uma proposta para a maioridade penal, por Elio Gaspari


Vinte e seis estados americanos têm leis conhecidas pelo nome de “Três Chances e Você Está Fora” (“Three Strikes and You Are Out”). De uma maneira geral, funcionam assim: o delinquente tem direito a dois crimes, quase sempre pequenos. No terceiro, vai para a cadeia com penas que variam de 25 anos de prisão a uma cana perpétua.

Se o primeiro crime valeu dez anos, a sociedade não espera pelo segundo. O sistema vale para criminosos que, na dosimetria judiciária, pegariam dois anos no primeiro, mais dois no segundo e, eventualmente, seis meses no terceiro.
Essa versatilidade poderia ser usada no Brasil para quebrar o cadeado em que está presa a sociedade na questão da maioridade penal. Uma pesquisa do Datafolha mostrou que 93% dos paulistanos defendem a redução da maioridade para 16 anos. De outro lado, alguns dos melhores juristas do país condenam a mudança.
É verdade que a população reage emocionalmente depois de crimes chocantes, como o do jovem que, três dias antes de completar 18 anos, matou um estudante, mas essa percentagem nunca ficou abaixo de 80%.
Seria o caso de se criar o mecanismo da “segunda chance”. A maioridade penal continuaria nos 18 anos. No primeiro crime, o menor seria tratado como menor. No segundo, receberia a pena dos adultos. Considerando-se que raramente os menores envolvidos em crimes medonhos são estreantes, os casos de moleza seriam poucos.
O jovem que matou o estudante Victor Hugo Dappmann depois de tomar-lhe o celular já tinha passado pela Fundação Casa por roubo. O menor que queimou viva a dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza também era freguês da polícia. Estaria pronto para a maioridade penal.

Fonte: O Globo

sábado, 4 de maio de 2013

A ciência pode explicar a crueldade?


Novas pesquisas mostram como alterações nas funções cerebrais, causadas pela genética e pelo ambiente, podem levar ao comportamento violento


Nas últimas semanas, uma série de crimes desumanos chamou a atenção da sociedade brasileira. Casos como o da dentista queimada dentro de seu consultório em São Bernardo do Campo ou o da turista estuprada oito vezes dentro de uma van no Rio de Janeiro chocam pela extrema crueldade com que os criminosos trataram suas vítimas e levantam questões sobre como esse tipo de comportamento é possível. O que leva alguém a deixar qualquer resquício de empatia de lado e agir de modo tão sádico com outro ser humano?
As discussões sobre os motivos que levam um indivíduo a agir violentamente costumam ser polarizadas entre duas posições radicais, ideologicamente opostas. De um lado, alguns defendem que o comportamento cruel é uma questão de caráter. Os criminosos seriam naturalmente ruins e, por isso, irrecuperáveis. Do outro lado, alguns defendem que os indivíduos violentos são apenas vítimas do ambiente em que cresceram, traumatizados por uma sociedade desigual e insensível. As pesquisas mais recentes mostram, no entanto, que a crueldade é mais do que apenas uma questão de maldade inata ou de traumas de criação. Na verdade, um novo campo de estudos — a neurocriminologia — mostra que o comportamento violento tem uma série de fatores que se originam em um único lugar: o cérebro humano.
Em 2008, pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos revisaram uma série de estudos que usaram exames de ressonância magnética para analisar o cérebro de indivíduos violentos. Como resultado, descobriram que disfunções em duas áreas cerebrais ligadas às decisões morais podem estar associadas a esse tipo de comportamento. Uma delas é a amígdala, área ligada à resposta aos perigos. Um estudo de 2009 mostrou, por exemplo, que os psicopatas têm a região 18% menor do que os outros indivíduos. A outra disfunção detectada na pesquisa é a baixa atividade do lóbulo frontal do cérebro, região associada à regulação dos comportamentos impulsivos. Um grande número de casos clínicos mostrou que ferimentos nas partes inferiores dessa área podem levar a sérias alterações de comportamento.
Um estudo publicado este ano mostrou que outra região — o córtex singulado anterior — também está associada a crimes violentos. A partir de exames de ressonância magnética, os pesquisadores conseguiram mostrar que ex-detentos com baixa atividade na área têm duas vezes mais chances de serem presos novamente. Com as técnicas cada vez mais avançadas de imagem cerebral, os pesquisadores estão conseguindo mostrar quais alterações podem levar um indivíduo a ser extremamente cruel. Falta mostrar o que causa essas alterações.
Anjinhos e demônios – Muitas vezes, o comportamento antissocial pode vir desde o berço. Uma pesquisa publicada nesta quinta-feira na revista Current Biology mostrou que crianças com graves problemas de conduta, que incluem agressão, roubo e crueldade, não reagiam à dor alheia do mesmo modo que as outras. Ao serem expostas a imagens de outras pessoas sofrendo, as áreas cerebrais associadas à empatia eram ativadas de forma menos intensa, como se o sofrimento dos outros pouco lhes importasse.
Um estudo clássico de 1984, publicado na revista Science, mostrou claramente que existe, sim, um componente genético nos comportamentos violentos. Os pesquisadores analisaram o histórico de 14.000 indivíduos que foram criados por pais adotivos. Eles descobriram que aqueles que eram filhos biológicos de pais com histórico criminal tinham muito mais chances de cometer crimes quando adultos — mostrando que a influência genética poderia ser mais importante do que educação familiar.
Após a publicação desse estudo, dezenas de outras pesquisas, em sua maioria com gêmeos idênticos, mostraram que o comportamento violento é em grande parte hereditário. Pesquisadores já começaram a identificar algumas mutações genéticas que podem estar relacionadas a esse tipo de personalidade, como as que atingem os genes COMT, 5-HTT ou MAOA. O último, por exemplo, está associado à produção da proteína monoamina oxidase A, que, quando em pequenas quantidades, provoca uma redução da amígdala cerebral.
Os cientistas deixam claro, no entanto, que não dá para culpar o DNA por toda a crueldade vista no mundo. Em 2010, o pesquisador Christopher Ferguson, da Universidade Internacional do Texas A&M, realizou uma revisão de 38 estudos sobre as raízes da violência feitos com gêmeos e crianças adotadas. Ao resumir os resultados, ele calculou que 56% das variações no comportamento antissocial poderiam ser explicadas pela genética. O resto deveria ser debitado ao ambiente. "A mais importante lição que a ciência pode nos dar é que não devemos discutir se é uma questão de natureza ou criação. É uma questão de natureza e criação", diz Tracy Gunter, psiquiatra da Universidade de Indiana, que também realizou uma revisão dos estudos da área.
Traumas — Historicamente, uma série de pesquisas mostrou que agressões e traumas sofridos na infância podem alterar o cérebro e o comportamento do indivíduo, deixando-o menos sensível à dor alheia e mais propenso à violência. "O ambiente fornece uma série de elementos estressantes que, se não forem exagerados, podem nos ajudar a crescer. Mas, se forem muito grandes, nós podemos passar a exibir problemas no modo como nos desenvolvemos e interagimos com esse mesmo ambiente", diz Tracy Gunter.
Uma pesquisa conduzida por Gunter em 2012 analisou o passado de 320 presidiários. Aqueles que haviam sofrido algum tipo de abuso na infância possuíam uma tendência maior a desenvolver comportamentos antissociais e psicóticos — assim como um risco maior de suicídio.
É claro que nem todos que passam por situações traumáticas desenvolvem algum tipo de comportamento antissocial. Muitos superam seus problemas e são capazes de levar uma vida normal. Nem a genética e nem o ambiente explicam 100% da crueldade— ela surge a partir da interação complexa desses fatores. Um estudo publicado em 2007 na revista PLos ONE, por exemplo, mostra que eventos traumáticos sofridos nos primeiros quinze anos de vida costumam ser superados sem desencadear grandes distúrbios. No entanto, quando esses traumas acontecem em indivíduos com baixa atividade no gene MAOA, eles se tornam um grande fator de risco para o comportamento antissocial. "Uma teoria plausível é que, na presença de uma quantidade menor da proteína do MAOA, o cérebro se torna mais sensível ao stress, principalmente durante o período de desenvolvimento", diz Gunter.

Saiba mais

EPIGENÉTICA
É o nome que se dá para as mudanças que acontecem nos genes sem, no entanto, alterar o código genético de um indivíduo. É diferente de uma mutação. Em uma mutação, o código genético é alterado. Já a mudança epigenética só altera a forma como um gene funciona. Essa mudança pode ser causada por fatores ambientais, como poluição ou mesmo pela prática de exercícios, e pode ser passada para as gerações seguintes.
Outro estudo publicado no ano passado no periódico The British Journal of Psychiatrymostrou outros fatores de risco que, quando associados à mutação no MAOA podem levar ao comportamento violento, como QI baixo, má educação e o fato de a mãe ter fumado durante a gravidez. "Nós temos entendido cada vez mais como o genoma é regulado, através do estudo da epigenética. Muitos fatores podem estar associados com mudanças que afetam as funções dos genes, como o consumo de álcool, desnutrição e stress ambiental", afirma a pesquisadora.
Contra o determinismo — Os pesquisadores destacam que essas conclusões não significam que os indivíduos não são responsáveis por seus atos. Por mais que existam fatores genéticos e ambientais que possam influenciar algum tipo de comportamento, o ser humano é, na maioria das vezes, livre para agir. "Há décadas, ou até séculos, sabemos que nossas escolhas são restritas por fatores que estão além de nosso controle. Isso não significa, no entanto, que não tenhamos a liberdade de escolher", diz Gunter.
Em alguns casos, principalmente naqueles em que algum tipo de insanidade é diagnosticada, os fatores biológicos podem realmente se sobrepujar à capacidade de escolha do indivíduo. Em outros, a decisão de agir de maneira cruel tem pouca ou nenhuma influência genética ou ambiental. "No entanto, para a maioria de nós, o ambiente e a biologia vão existir em algum ponto entre esses dois extremos. Esse é um campo de estudos sobre a complexidade, e não o reducionismo."


Fonte: Revista VEJA

México aposta em combate discreto ao tráfico


País também investe em ação social para tirar violência do centro da agenda

Estampado com frequência em manchetes sobre violência nos últimos anos, o México quer sair das páginas policiais para as de economia, sociedade ou cultura. A guerra ao crime organizado declarada pelo ex-presidente Felipe Calderón em 2006 — que segundo organizações civis deixou quase 100 mil mortos nos enfrentamentos entre forças de segurança e cartéis do narcotráfico — começa a dar lugar a uma nova estratégia de segurança liderada pelo atual mandatário, Enrique Peña Nieto.
A aposta inclui a retirada gradual do Exército das regiões mais afetadas pela violência e maior investimento em projetos de prevenção e programas sociais em áreas de risco. Mas a mudança mais visível até agora está na comunicação da violência. Sem alarde sobre capturas, tiroteios e mortes, o governo espera tirar a insegurança do centro de debate da população e dos meios de comunicação. E monta uma agenda diferente baseada na tentativa de que a percepção de paz ajude a mudar a realidade.
— Já não há apresentação de detidos nem de massacres para a imprensa, toda a questão midiática que houve com Calderón. O governo quer fazer que as pessoas deixem de pensar em violência todos os dias. Ele ordenou aos estados que não façam alarde, que a prioridade seja o ataque à pobreza sobre a guerra. E há certa razão nisso — afirmou ao GLOBO o analista José Reveles, especialista em segurança.
Não que a violência tenha deixado o território mexicano. No mês passado, o próprio governo divulgou os números de homicídios ligados ao crime organizado no país desde dezembro, quando Peña Nieto tomou posse: foram 4.249 até março, uma queda modesta de 14% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Foco na economia na relação com eua
Os militares deslocados a regiões de risco ainda são os mesmos, mas as denúncias de violações de direitos humanos cometidas por eles caíram. A impressão, segundo analistas, é de que Peña Nieto foi beneficiado com um voto de confiança da população já pela troca de governo em si, que rompeu com o círculo vicioso do mandato anterior e gerou uma onda de esperança.
Mas as ações sociais, mais que anúncios de capturas de chefões do narcotráfico, também têm feito diferença. Mês passado, Peña Nieto lançou a Cruzada Nacional contra a Fome para atender a população pobre, quase metade dos 112 milhões de mexicanos. Em paralelo, impulsiona uma agenda de reformas em áreas problemáticas no país, como educação e sistema judiciário. E pediu um ano de “trégua” à população para que a mudança de enfoque se reflita nas estatísticas.
— Calderón não errou ao decidir combater o narcotráfico. Era preciso. E os militares aprenderam a fazer inteligência, operativos. Mas foi uma estratégia parcial, focada na polícia federal e no Exército. A nova estratégia de atacar em várias frentes pode ser, em teoria, melhor, mas não é fácil fazê-la andar. Deve haver também um combate à corrupção. Os cartéis penetram nas esferas de governo — ressalta Raúl Benítez Manaut, do Centro de Pesquisas sobre América do Norte da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam).
A diversificação da agenda também deve cruzar a fronteira e influenciar a relação com os Estados Unidos. Esta semana, num encontro entre Peña Nieto e o presidente americano, Barack Obama, na Cidade do México, a economia se sobrepôs a temas como segurança e imigração.
— A relação bilateral deve ser multitemática — defendeu Peña Nieto.
Ele anunciou a formação de um grupo com membros dos dois governos para aumentar a integração econômica. A segurança nas fronteiras foi citada como “uma das prioridades”, não a única.
— Continuaremos cooperando da forma que pudermos contra o crime — prometeu Obama, sem detalhes.
Dificilmente, porém, a segurança sairá da pauta, principalmente pela preocupação americana em manter a fronteira segura e limitar a ação dos cartéis em seu território. Obama teve uma cooperação estreita com Calderón, que por sua vez investiu pesado em material militar. Mas, numa demonstração das novas diretrizes, o atual governo mexicano fechou uma base da agência antidrogas americana — a DEA, na sigla em inglês — em Monterrey, numa tentativa de conter a ingerência da Inteligência estrangeira em seu território. Além disso, dissolveu a Secretaria de Segurança Pública e centralizou todo o comando contra o crime na Secretaria de Governança.
Se por um lado as mudanças geram otimismo, por outro também trazem dúvidas. A aparente calma desperta velhos temores em relação ao governista Partido Revolucionário Institucional (PRI), cujo histórico inclui acusações de pactos com o crime organizado para criar uma sensação de diminuição da violência. Paira ainda a ameaça da corrupção — outro velho fantasma da política mexicana — sobre os fundos destinados aos projetos sociais.
Desaparecidos em fossas clandestinas
A lista de desafios abrange ainda mais de 26 mil mexicanos desaparecidos, embora nem todos relacionados à violência. A guerra das estatísticas também preocupa: não raramente, governo, imprensa e organizações civis apresentam contagens próprias e diferentes, o que dificulta o alcance da real dimensão do problema.
— Há cemitérios clandestinos espalhados no território com corpos de mexicanos e imigrantes, numa crise humanitária que o governo ainda não sabe enfrentar — conta Arturo Alvarado, diretor do Centro de Estudos Sociológicos do Colégio de México. — Há casos em que a imprensa e a população relatam enfrentamentos com dezenas de mortos e, depois, menos de dez são registrados nos relatórios oficiais. O que acontece com esses corpos?
Há muitas perguntas ainda sem respostas. Ao mesmo tempo, o governo se prepara para a criação de uma gendarmeria, uma polícia militarizada que atuará nas comunidades de maior risco. O plano faz parte do Programa Nacional de Prevenção do Delito, outra promessa de Peña Nieto para combater os crimes que mais afetam a população, como roubos e sequestros.
— Falar em prevenção não seria possível há quatro anos. As reformas e a debilitação de cartéis iniciadas na administração anterior abriram caminho para um enfoque novo e positivo. É mais simples colocar as Forças Armadas nas ruas do que trabalhar a segurança com ênfase social — diz Antonio Mazzitelli, representante regional do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC) para o México, América Central e o Caribe. — Agora é preciso vontade política e paciência para colher resultados. Temos que ver a estratégia em ação.

Fonte: O Globo