terça-feira, 14 de junho de 2011

Uma cadeia com sexo, droga e festa

Futuro das Penitenciárias Brasileiras




PORLAMAR, Venezuela - Do lado de fora, o presídio San Antonio na ilha Margarita parece qualquer outra penitenciária venezuelana. Soldados de uniforme verde guardam seus portões. Atiradores de elite espreitam das torres de vigilância. Guardas olham ameaçadoramente para os visitantes antes de revistá-los na entrada.

 
Mas, uma vez lá dentro, a prisão para mais de 2.000 venezuelanos e estrangeiros detidos principalmente por tráfico de drogas mais parece um resort inspirado na Playboy.

 
Mulheres visitantes de biquíni desfrutam o sol do Caribe em uma piscina externa. O cheiro de maconha tempera o ar. O “reggaetón” retumba de um clube cheio de casais que dançam entrelaçados. Pinturas do logotipo da Playboy enfeitam o salão de bilhar. Os detentos e seus convidados apostam animadamente na ruidosa arena de briga de galos da prisão.

 
“Os prisioneiros venezuelanos dirigem o show, e isso torna a vida aqui dentro um pouco mais fácil para todos nós”, disse Fernando Acosta, 58, um piloto mexicano preso desde 2007.

 
A vida atrás das grades em San Antonio é uma mistura surreal de hedonismo e força. Alguns detentos caminham pelo terreno segurando rifles de assalto.

 
“Eu passei dez anos no Exército, brinquei com armas toda a minha vida”, disse Paul Makin, 33, um britânico preso aqui em Porlamar por tráfico de cocaína em 2009. “Eu vi aqui algumas armas que nunca tinha visto. AK-47, AR-15, M-16, Magnum, Colt, Uzi, Ingram… Cite qualquer uma, aqui tem.”

 
Os prisioneiros dizem que devem seus privilégios incomuns a um colega de prisão, Teófilo Rodríguez, 40, um traficante de drogas condenado que controla o arsenal que espanta Makin. Rodríguez é o principal líder dos detentos -um “pran”, como são chamados os prisioneiros que comandam.

 
Rodríguez também atende pelo apelido de “El Conejo” (o coelho), o que explica a proliferação de sua marca registrada pelo presídio: as pinturas do logotipo da Playboy. Há muitas oportunidades para os detentos ganharem dinheiro. Visitantes que chegam da ilha, um destino turístico enfeitado por palmeiras, fazem fila nos fins de semana para apostar na rinha de galos da prisão ou comprar drogas dos prisioneiros.

 
“O Estado perdeu o controle das prisões da Venezuela”, disse Carlos Nieto, diretor da “Window to Freedom” (janela para a liberdade), que documenta violações de direitos nos presídios do país.

 
Grupos de direitos humanos dizem que a corrupção e o desmando institucional impediram as iniciativas para melhorar as condições em muitas prisões venezuelanas. Uma série de rebeliões de presos bem-sucedidas nas últimas semanas salientou as dificuldades.

 
Luis Gutiérrez, o diretor de San Antonio, se recusou a comentar sobre a prisão que ele, supostamente, supervisiona.

 
Os prisioneiros se gabam de que eles mesmos construíram seus alojamentos, com dinheiro próprio. Dizem que as fugas são raras (os detentos ainda enfrentam a ameaça de serem mortos por soldados do lado de fora). E, embora San Antonio, dificilmente, possa ser considerado seguro, os detentos afirmam que a paz costuma prevalecer.

 
“Nossa prisão é uma instituição modelo”, disse Iván Peñalver, 33, um assassino condenado que é um cristão evangélico.

 
“Há mais segurança aqui do que lá fora na rua”, disse Rodríguez, entrevistado enquanto os guarda-costas abriam ostras para ele.


A vida sob sua proteção obedece a códigos próprios. As festas incluem grupos de rap convidados para se apresentar. Embora separadas por um muro, as 130 detentas no anexo feminino se misturam livremente com os homens. Algumas formam pares românticos.


Em partes da prisão, predomina algo que se aproxima da normalidade.


Um barbeiro corta cabelos, uma barraca de comida chamada McLandro’s vende sanduíches. O reggaetón do clube ressoa dia e noite. Os galos cantam de madrugada.


“Eu acho difícil explicar como é a vida aqui”, disse Nadezhda Klinaeva, 32, uma russa que cumpre pena por tráfico no anexo feminino. Este é o lugar mais estranho em que já estive.


Por Simon Romero -NYT.


Fonte: Blog Diário de um Juiz

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