quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Governo quer parceria entre Goiás e DF para enfrentar violência no Entorno

Representantes dos governos debatem com o Ministério da Justiça a criação de um fundo de financiamento da segurança pública



Mara Puljiz
Durante a reunião, observado pelo ministro José Eduardo Cardoso, Agnelo Queiroz inutilizou uma arma (Gustavo Moreno/CB/D.APress)
Durante a reunião, observado pelo ministro José Eduardo Cardoso, Agnelo Queiroz inutilizou uma arma


A criação de um fundo para financiamento da segurança pública do Entorno é vista como uma das soluções capazes de amenizar a violência dos 16 municípios da região. Os recursos deverão somar cerca de R$ 700 milhões, oriundos da União e dos governos de Goiás e do Distrito Federal. Essa medida, bem como investimentos na estrutura física — com a construção de mais delegacias e de postos de policiamento — e a valorização dos profissionais, deve ser listada em uma carta de intenções a ser divulgada ainda este ano. A insegurança foi tema de debate ontem durante o 1º Colóquio sobre Segurança Pública no DF e Entorno, realizado no Centro de Convenções de Luziânia (GO), distante 48 quilômetros de Brasília.

O evento começou por volta das 12h e contou com a presença de pelo menos 30 autoridades, entre elas o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo; o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz; a secretária Nacional de Segurança Pública, Regina Miki; e o secretário de Segurança Pública de Goiás, João Furtado Neto, que justificou a ausência do governador Marconi Perillo. “Por motivo de agenda no DF, ele não pôde estar aqui. Perillo foi tratar de assuntos da mais alta importância”, disse Neto. Especialistas, diretores da Polícia Civil, comandantes da Polícia Militar das duas unidades da Federação e deputados federais também participaram da discussão.

Do lado de fora do Centro de Convenções, a população segurava faixas e cartazes cobrando uma resposta das autoridades ao enfrentamento da violência no Entorno. Entre elas, estava a funcionária pública Geralda Meireles, 41 anos. Por volta das 18h30 do último domingo, o cunhado dela foi assassinado com quatro tiros após furar uma barreira feita por um grupo de vândalos em uma rua de Luziânia. “Ele saiu para comprar remédio e, quando tentou passar, foi atingido por chutes e garrafadas, e assassinado”, contou. Até ontem, o crime permanecia impune. Na rua onde ocorreu o homicídio, os vizinhos preferiram não se manifestar sobre a barbárie. “Onde estava a polícia ,que não impediu esses marginais de fecharem a rua e de matar uma pessoa?”, disse indignada.

Com deficit de quase 3 mil vagas e salário de R$ 2.711, a Polícia Civil do Entorno segue em greve há 31 dias. A corporação pede aumento da gratificação de localidade, oferecida a policiais em situação de risco permanente, hoje, no valor é de R$ 276. A categoria reivindica uma ajuda de custo de R$ 800 para todos os agentes. “A região é muito violenta e isso é provado estatisticamente. O governo de Goiás está omisso ao caos e não tem valorizado a polícia”, criticou o diretor do Sindicato dos Policiais Civis de Goiás (Sinpol-GO), Silveira Alves.

Resposta

Para o ministro da Justiça, o primeiro passo para reduzir os índices de violência é a união dos Executivos do DF e de Goiás com o governo federal, respeitando as diferenças partidárias. “Nós temos que dar uma resposta à população e ter uma boa gestão do dinheiro que for empregado aqui”, disse Cardozo. Segundo Agnelo Queiroz, é possível que os policiais do DF passem a ter reuniões periódicas com os colegas de Goiás para discutir estratégias de combate à violência. “O objetivo desse colóquio é fazer ações concretas e organizadas. É importante que o policial do Distrito Federal possa entrar em Goiás para fazer operações, por exemplo”, disse Agnelo.

Durante o evento, com ajuda de uma marreta, ele o ministro e os secretários de segurança de Goiás e Nacional também inutilizaram uma arma como símbolo da Campanha Nacional do Desarmamento de 2011.

Enquanto na cidade do Rio de Janeiro a taxa de homicídios por 100 mil habitantes é de 30 assassinatos, em Luziânia é de 73,91 e em Valparaíso de 73,69. O número de mortes cresceu 57% de 2007 até o ano passado, saltando de 312 assassinatos para 531. A média em 2010 foi de 44 assassinatos por mês e, este ano, a quantidade subiu para 53, ou seja, crescimento de 20%. Para o chefe do gabinete de Gestão de Segurança Pública do Entorno, Edson Araújo, a situação é fruto da falta de interesse de governos anteriores. “São 50 anos de uma dislexia sobre de quem é a responsabilidade do Entorno. Não é possível o DF querer ser uma ilha de segurança, uma vez que a miséria não respeita muros”, disse.

Radiografia
Evolução do número de homicídios no Entorno

2007 - 312
2008 - 368
2009 - 471
2010 - 531
2011* - 426 (média mensal 20% superior à registrada no ano anterior)

*janeiro a agosto

Efetivo insuficiente
                            Equipe Atual           Ideal
Polícia Militar -            1.746              4.010   
Polícia Civil -                 434               1.234
Corpo de Bombeiros -   171               1.674

Vítima da insegurança

Em 2005, Antônio Leopoldino Sobrinho, 43 anos, ficou de frente com a morte após sofrer uma tentativa de assalto na porta de uma agência bancária em Luziânia, onde mora. O motorista foi abordado por quatro bandidos, entre eles dois adolescentes, que exigiram que ele seguisse para o próprio carro sob a mira de um revólver. Com medo de ser espancado e assassinado em seguida, ele reagiu. “Quando o rapaz encostou o cano no meu peito eu virei de uma vez e segurei a arma. Ela ainda conseguiu disparar e acertou a minha barriga. Graças a Deus, tive força para dominar o assaltante que estava armado até a polícia chegar. O restante correu”, lembra. Depois disso, Antônio ainda passou cerca de duas semanas internado no hospital e um ano afastado do trabalho.


Fonte: Correio Braziliense

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