sexta-feira, 18 de junho de 2010

PCC & CV LTDA

Tráfico de armas comandado de presídios comprova ligação entre facções do Rio e de São Paulo






RIO - Segundo o delegado Enrico Zambrotti, da Delegacia de Repressão ao Tráfico de Armas (Delearm), responsável pelo combate ao tráfico internacional de armas que era comandado de dentro de presídios cariocas, a operação Patente, deflagrada nesta quinta-feira, comprovou a estreita ligação entre as principais facções criminosas do Rio e de São Paulo: 

- Eles estão trabalhando juntos para atuar no tráfico de armas e de drogas. 

A Polícia Federal informou ainda que, durante as investigações, ficou evidenciado que traficantes do Rio estão migrando para a Baixada Fluminense e até para a Região Serrana, principalmente para a cidade de Petrópolis. 

- Durante nossas investigações, acabamos evitando que traficantes do Rio invadissem a Favela da Taquara, em Petrópolis - explicou Zambrotti. 

As prisões no Rio, em Duque de Caxias, Petrópolis e São Paulo representam um golpe no fornecimento de armamento pesado para a criminalidade. A quadrilha trazia armas - em média, 15 fuzis por mês -, drogas e munição do Paraguai para distribuição no Rio, na Baixada Fluminense, na Região Serrana do estado e em São Paulo. 

Entre os procurados pela PF, com mandados de prisão expedidos pela Justiça Federal, estão integrantes das duas maiores facções criminosas que controlam presídios e favelas do Rio e de São Paulo, uma advogada e um empresário do ramo de transportes. Até o início da tarde, 13 pessoas haviam sido capturadas pelos agentes federais, que iniciaram as investigações em janeiro. 

Seap não foi avisada sobre operação para evitar vazamentos

Munidos dos mandados de prisão e de busca e apreensão, os policiais federais entraram em quatro presídios do Rio, para vasculharem celas - em busca, principalmente, de celulares - e dar ordens de prisão contra quatro homens que já cumpriam penas por outros crimes. Como a PF não comunicou à Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) que cumpriria os mandados - para evitar vazamentos - os guardas ficaram surpresos quando os federais chegaram, às 7h, mas ninguém reagiu. Delegados e agentes estiveram no presídio Ary Franco, em Água Santa, e nas penitenciárias Vicente Piragibe, Jorge Santana e Gabriel Castilho, no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste. Segundo a Seap, a Polícia Federal não encontrou celulares ou outro material proibido nas celas. 

O delegado Anderson de Andrade Bichara chefiou as investigações ao lado de Zambrotti. Segundo Bichara, a quadrilha comprava armas (na maioria fuzis e pistolas), munição e drogas na cidade paraguaia de Capitán Bado e transportava tudo para o Rio. A base operacional do bando ficava na Favela Vila Ideal, em Duque de Caxias, próxima à Favela Beira-Mar, reduto do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, preso no presídio federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Mensalmente, segundo os policiais, o grupo era o responsável pelo transporte de cerca de 15 fuzis do Paraguai para as favelas cariocas. Caminhões e carros com fundos falsos eram preparados no Rio e usados na operação. 

- Em três ações este ano nós conseguimos interceptar um total de 140 quilos de maconha, 300 sacolés de cocaína, 13 pistolas e uma submetralhadora 9mm, além de carregadores e munição de vários calibres - afirmou Anderson. 

Batizada de "Patente", uma referência às constantes viagens de parte do grupo a cidades com nomes de militares - Capitán Bado, no Paraguai, e Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul -, a operação começou na última quarta-feira, quando os federais descobriram que cinco integrantes da quadrilha teriam uma reunião num restaurante de Copacabana. Como os criminosos planejavam viajar, os policiais decidiram antecipar as prisões, inicialmente previstas para ontem. Benedito Ramos, o Tinho, foi preso quando desembarcava no Aeroporto Internacional Tom Jobim, vindo de São Paulo; enquanto a advogada Eunice Fábio dos Santos, o empresário Luciano Azevedo Ananias, Lenildo da Silva Rocha e Cristiana Ferreira Maurício da Silva foram detidos no restaurante. 

Ainda segundo os policiais federais, as celas das penitenciárias do Rio teriam sido transformadas em verdadeiros escritórios do crime, de onde, mesmo cumprindo pena, os presos tinham acesso a aparelhos celulares e controlavam operações de logística complexa. 

- Eles, mesmo presos, determinavam todos os passos de seus comparsas em liberdade e até negociavam propinas oferecidas a policiais paraguaios - revelou o delegado Anderson. 

Capturado em Petrópolis, Pablo Ocelli Xavier, seria um dos responsáveis pela logística do bando, cuidando dos caminhões que eram preparados com fundo falso e seguiam para Coronel Sapucaia, na fronteira com o Paraguai. Mesma função que tinham Solange Sombra e Anderson Tibério, também presos nesta quinta-feira. 

Monitorada nos últimos meses pelos federais, a advogada Eunice Fábio cuidava das operações financeiras da quadrilha, viajando constantemente ao Paraguai e visitando favelas do Rio; já o empresário Luciano Azevedo Ananias usava os caminhões de sua empresa de transporte para levar armas, munição e drogas. 


Antonio Werneck


Fonte: O Globo 

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