sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ataques no Rio, Colômbia, México e Iraque

O desafio de retomar áreas de grupos armados


RIO - Nos anos 80, a colombiana Medellín era uma das cidades mais perigosas do mundo. Em 2004, a Cidade de Sadr, em Bagdá, era associada a bombas e a uma milícia que impunha mortes a soldados americanos. Já para os mexicanos, Ciudad Juárez se tornou sinônimo do pesadelo que o tráfico de drogas levou ao país. Em comum, essas três cidades tinham - ou ainda têm - áreas onde a polícia não podia entrar, populações desassistidas e cenas muito parecidas com as que os cariocas viram ontem pela TV. 

Foram necessários 20 anos para Medellín se livrar da aura de medo que cercava seu nome. Maior produtora de cocaína do mundo e sede do império de Pablo Escobar, a cidade era dominada por traficantes e paramilitares. A situação começou a virar nos anos 90. Numa madrugada, a Polícia Nacional e o Exército entraram de surpresa e fizeram várias prisões. 

- Muitos tiveram que ser soltos porque não havia provas suficiente para julgá-los, o que mostrou a necessidade de medidas adicionais - explica de Bogotá, por telefone, Alfredo Rangel, diretor da Fundação Segurança e Democracia. 

As medidas incluíram o afastamento de policiais corruptos; a modernização do serviço de inteligência; e a construção de penitenciárias de segurança máxima, evitando que os presos continuassem no comando de dentro das celas. Elas foram acompanhadas pela reforma nas leis, com penas duras para o tráfico e a facilitação da extradição: 1.500 criminosos foram cumprir sentença nos Estados Unidos. 

- Vejo semelhanças com o Rio, com a pobreza crítica, que o narcotráfico aproveita para recrutar jovens, e uma polícia corrupta. Se o Rio aprender com nossa experiência pode economizar tempo e levar dez anos em vez de 20 - diz Rangel. 

A Colômbia teve ainda que retomar da guerrilha e dos paramilitares áreas que haviam sido cedidas para abrigar negociações de paz, e onde o Estado não entrava mais: 42 mil quilômetros quadrados. O amplo reforço na segurança e na inteligência - com apoio dos EUA - acabou por tirar a guerrilha das áreas urbanas e empurrá-la para a selva. O Peru viveu situação semelhante com o Sendero Luminoso, grupo terrorista responsável por sequestros e atentados a bomba. A guerra antiterror do governo Fujimori resultou na morte de 40 mil pessoas e em acusações de violações de direitos humanos contra o Estado e, mesmo enfraquecendo o grupo, não conseguiu destruí-lo por completo. 

Hoje, muitos falam numa "colombianização" do México. Rota de entrada da droga nos EUA, este ano já registrou 10 mil mortes violentas. Um dos estados mais afetados é Chihuahua, onde fica Ciudad Juárez, cenário de confrontos entre grupos criminosos. Desde 2008, o governo tem enviado soldados à cidade. No ano passado, 2 mil foram mandados, sendo retirados depois. Com a violência em alta, os militares voltam às ruas ainda este mês. Ao todo, cerca de 45 mil soldados foram deslocados pelo país, numa estratégia de confronto nem sempre bem aceita. Alguns especialistas se queixam da falta de planejamento. Outros, da morte de civis. 

- As soluções a longo prazo são a educação e o emprego - conta, da Cidade do México, a escritora e analista política Elena Poniatowska. 

No Iraque, foram necessários dez mil homens para ocupar a Cidade de Sadr, um bairro pobre, reduto de xiitas, em Bagdá, onde vivem dois milhões de pessoas. A área era dominada pelo clérigo radical Moqtada al-Sadr, que se opõe à presença americana. Em 2008, o Exército entrou sem encontrar resistência. Se a ação não deixou mortos ou feridos, tampouco resultou na desmobilização da milícia. 



Fonte: O Globo

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