domingo, 16 de junho de 2013

Análise de Cenários: #Ocupe




O que está acontecendo com o povo brasileiro? Em que curva do passado essa gente pacífica e ordeira mudou de lado?

As raízes das insatisfações populacionais não são novas, também não são tupiniquins. Em todo o mundo gritos são ecoados, multidões sem líderes vão às ruas, quebradeiras, incêndios, revoluções...

Parecia sem lógica que os imigrantes negros e pobres das colônias francesas, residentes na periferia de Paris, começassem a quebrar lojas e incendiar carros, gritando por respeito e preços baixos, dignidade, liberdade...

A polícia francesa reagiu com força e preconceito, calando as dores internas com pancadas externas. O governo de diversos países, que controlam as forças policiais mundo afora, entenderam que aquela vacina funcionava.

Logo após o Oriente Médio, com uma população de histórico inexistente de externalização das suas insatisfações, abriram as bocas e fecharam ditaduras, guardando véus e expondo lágrimas.

A  raiva de um comerciante árabe (camelô) que estava sendo roubado por policiais e fiscais, cometendo suicídio em via pública (imolando) e gritando palavras de desordem contra a ordem, inflamou um fogo que estava abafado por milênios de dominação.

A insatisfação de um pelo erro de alguns provocou uma onda que foi chamada de Primavera Árabe.

O Oriente virou Ocidente, ruas foram tomadas, praças ocupadas, crimes cometidos, descontrole social... a polícia usou o remédio francês e os resultados foram piores.

A casa caiu na Líbia, no Egito e em diversos outros países. O governo de diversos países, que controlam as forças policiais mundo afora, entenderam que balas de borracha, gás lacrimogêneo e cassetetes tinham efeitos colaterais graves.

Imediatamente começou em Nova Iorque o ocupe Wall Street, com críticas ao poder econômico mundial. Era um grito esquisito, mascarado, sem líderes... o governo americano evitou a receita francesa e, principalmente, seus efeitos colaterais verificados no mundo islâmico. Sem tratamento de choque o paciente melhorou, não apresentando novos sintomas foi liberado para voltar em paz para casa.

O movimento #ocuppy alcançou diversos países e mostrou sua face: Guy Fawkes, revolucionário católico condenado a morte após uma tentativa de explodir o parlamento inglês em 1605. O aniversário do golpe fracassado é festejado desde então na Inglaterra, com festas e fogueiras, sempre no dia 5 de novembro.

Independente das raízes históricas e violentas do Movimento "V" de Vingança, independente das nossas raízes históricas e pacíficas de brasileiros, as ruas das nossas capitais estão sendo tomadas por jovens violentos, pacíficos, anarquistas, democratas... jovens!

Vários são os facilitadores para essa onda. Todo jovem é insatisfeito com o status quo: não acordar tarde, dormir cedo, não beber, estudar, não assistir tal programa, ir à missa, não dirigir, frequentar festas familiares, não correr, ser educado, não comer besteiras, comer verduras, não pular, não namorar, não sair com tal amigo... não!

É histórico que essa demanda reprimida estoura em algum momento.

No passado recente os partidos políticos da oposição, que lideravam os grêmios estudantis e sindicatos, usavam essa massa para manifestações diversas: transporte, educação, saúde, segurança, salário mínimo, corrupção, ditadura, EUA... contra alguma coisa.

Infelizmente essa válvula de escape foi fechada pelo atual governo. Os Presidentes e Chefes dos Sindicatos, Faculdades, Colégios e outros centros de massa, foram contratados como funcionários públicos bem remunerados. Acabaram as manifestações, era como se um mundo maravilhoso tivesse sido criado.

A paz reinou no mundo externo a partir de 2003, mas a revolta interna persistiu dentro dos jovens, que agora querem quebrar algo.

As ruas de Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Brasília e outras capitais, foram apenas o início de algo que vai aumentar. Está marcado para essa segunda-feira (17 de junho de 2013) movimentos em todo o Brasil, agora também nas cidades médias e pequenas.

Revoluções começam por motivos simples (brioches, corrupção policial, aumento do preço de ônibus) e terminam com resultados grandiosos (queda de ditadores, mudanças sociais, cabeças cortadas).

Como reagir a essa onda? Usar o remédio francês ou o americano? Bater ou assistir?

A Polícia Ostensiva será usada para reprimir esses movimentos sociais, também será acusada de violência excessiva, sendo que ao final os seus membros serão denunciados por crimes diversos, julgados, condenados e demitidos. Esse é o retrato a curto prazo!

Não adianta bater, atirar e sufocar, a massa é maior que o rolo.

O problema maior será o recuo dessa força. A Polícia Militar é o último recurso antes do Exército. Será que nossas autoridades, membros atuantes dos movimentos sociais nos anos 60 e 70 do século passado, estão preparados para assistirem as Forças Armadas com tanques nas ruas? Sem citarmos que é difícil estabelecer quando será o retorno dessa tropa para os quartéis, na última vez que saíram demoraram 20 anos para retornarem.

Se bater não é a solução e recuar não é uma opção, vamos tentar entender para solucionar.

A ordem é o resultado da desordem, sem a desordem nunca haverá necessidade da ordem. A desordem é um pedido violento de nova ordem. Os anarquistas de hoje podem ser os chefes de amanhã, nessa nova ordem imposta pela desordem.

Normalmente quem começa revoluções não assumem o poder ao final, perdem as cabeças nos julgamentos de exceção do durante. Lembremos sempre de Robespierre, o líder da Revolução Francesa.

Portanto não devemos procurar saber quem lidera o #ocupe. Pouco importa saber a pessoa, grupo ou partido que incentiva a desordem, visto que os liderados não sabem o que querem e nem pra onde vão. Mas querem e vão!

Para entender temos que ouvir. Quais são as palavras de ordens dos manifestantes?

Controle da inflação, empregos bem remunerados, educação de qualidade e gratuita, casas e carros financiados a juros zero, transporte público de graça, qualidade no serviço público, reforma política, corruptos presos, fim da violência, escolas e hospitais em todos os locais...

A princípio concordamos com todos os pedidos.

Devemos entender que a sociedade é cíclica. Sempre muda, algumas vezes pacificamente, mas na maioria das vezes de forma violenta.

Acredito que estamos assistindo um novo começo de era, algo vai mudar ou está mudando. Os sinais são claros, os movimentos precisos, as partes estão sendo estabelecidas.  Não aja como o dinossauro que não viu o cometa caindo!

Independente se essa nova revolução vai acontecer em 20 anos ou 20 dias, ela vai ocorrer.

Nós, militares, somos éticos, morais, honestos, religiosos... respeitamos os costumes, as regras, os usos... garantimos a ordem, a pátria, os direitos, as leis...

A pergunta que devemos fazer nesse momento é: O poder e os protegidos que ora protegemos seguem nossas cartilhas morais? Se a resposta for positiva, devemos garantir a ordem atual. Se não, devemos apoiar a nova ordem.

"O povo conspira com quem o protege."
Maquiavel


Ten Cel Giovanni Valente Bonfim Júnior

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