quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Falta Polícia para a Copa 2014

PUBLICAÇÕES DE MAIO/2009

Entre os países escolhidos para sediar a Copa, o Brasil é o segundo mais violento --só fica atrás da África do Sul--, segundo critérios de homicídios medidos pela ONU. E, hoje, o país tem um número insuficiente de policiais para garantir a segurança nas 12 cidades-sede.

Das 12 prováveis sedes do Mundial, só uma tem índice de assassinatos abaixo da média nacional --Natal. Todas as outras têm números superiores.

A média brasileira de homicídios é de 23,7 pessoas por 100 mil habitantes. Pelos critérios da ONU, índices acima de 10 por 100 mil pessoas já caracterizam epidemia de violência.

A África do Sul tem número bem superior ao brasileiro. A taxa, em 2004, variava de 39,5 a 69 homicídios --a ONU divulga faixas, não médias precisas. À época, o órgão dava ao Brasil média de 26,2 a 30,8 mortes.

Para minimizar o problema, os africanos irão mobilizar 40 mil homens, entre policiais e soldados do Exército, para proteger dez sedes, ou um agente para cada 1.197 habitantes.

Com duas sedes a mais, o Brasil terá dificuldades de atingir, proporcionalmente, esse patamar. Para Régis Limana, coordenador-geral de Inteligência da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) do Ministério da Justiça, não há uma preocupação em relação ao tamanho do efetivo.

Limana, que coordena os projetos de segurança do Mundial e da candidatura olímpica Rio-2016, não consegue estimar quantos agentes serão usados em 2014. Segundo ele, ainda haverá reunião com os centros de segurança dos Estados.

Ele, no entanto, já sabe que serão destacados 60 mil policiais para o Rio de Janeiro, se a cidade for sede olímpica.

"É bem mais complexo [o esquema de segurança para a Copa]. O aparato que você movimenta para a Olimpíada tem que ser replicado por 12", disse.

Questionada pela Folha, a assessoria de imprensa do Exército informou que não faz parte de suas atribuições a segurança pública do país. Ou seja, não pretende atuar na Copa.

Sem o Exército, o Brasil contava com 411.896 policiais militares em 2006, segundo o governo. Para atingir o número de homens usado pelos africanos, proporcionalmente, o país teria de mobilizar em torno de 160 mil deles --39% da tropa.

Mas se deve levar em conta que boa parte dos policiais não está nas cidades-sede. Pela última informação disponível, de 2003, cerca de 340 mil policiais atuavam nos Estados das 17 candidatas. Em resumo, haverá menos do que isso nas sedes.

Outro dado preocupante é que o crescimento da tropa tem sido abaixo da média de aumento da população. Pelos números de 2004, de 13 cidades candidatas, 12 têm defasagens em sua tropa de policiais militares --outras quatro não forneceram dados ao governo.

A ONU recomenda um agente de segurança para cada 250 habitantes, número registrado em países com índices mais baixos de violência. Considerados só os PMs, nenhuma região do país atinge esse índice.

Com a soma dos bombeiros, que são militares, e dos policiais civis, o Centro-Oeste e o Norte conseguem chegar ao patamar de referência mundial. Mas as outras regiões seguem abaixo do índice exigido.

Com a violência em alta e com poucos policiais, o Brasil terá o desafio de proteger um número inédito de turistas. Ou arcar com as consequências.


MARIANA BASTOS RODRIGO MATTOS

Fonte: Foha de São Paulo (30/05/09)

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