sábado, 12 de setembro de 2009

Site usa crime para afastar turistas da Copa

PUBLICAÇÕES DE JUNHO



Um site, lançado por um grupo de profissionais na área de seguros, detonou uma crise política na África do Sul que respinga no presidente Thabo Mbeki e tem como alvo o boicote à Copa do Mundo de 2010. Lançado em julho de 2006, o Crime Expo iniciou uma campanha para avisar os turistas estrangeiros sobre os riscos que correm se forem à África do Sul durante o Mundial. Os idealizadores decidiram relatar os crimes que acontecem diariamente no país.

Os índices de criminalidade na África do Sul aumentaram sensivelmente nos últimos sete meses. Entre fevereiro e julho deste ano, 56 policiais foram mortos. O país apresenta um índice de 51 assassinatos, 150 casos de estupro e 345 assaltos por dia. A estatística é do próprio governo.

O aumento da violência pode estar relacionado com a ação de soldados do país vizinho Zimbábue, que desertaram do exército do governo de Robert Mugabe por causa dos baixos salários. Estes estariam fornecendo armamento e apoio aos sindicatos do crime na África do Sul.

O empresário Neil Watson, dono de uma corretora de seguros de Joanesburgo, teve a idéia de criar o site junto com 12 outros colegas. No endereço www.crimeexposouthafrica.co.za seria possível ler sobre roubos, seqüestros, assaltos, estupros e assassinatos. O projeto, explicou Watson, era pressionar o governo de Mbeki a tomar medidas efetivas para o combate ao crime. "Ofender os políticos não faz mais efeito. Votar em candidatos mais simpáticos também não funcionou. O jeito é dizer aos turistas internacionais o que pode acontecer entre o aeroporto e o hotel. Isto vai pressionar as autoridades".

O site entrou em funcionamento. Watson passou a receber ameaças de morte. E, estranhamente, o domínio foi sobreposto por outra página na internet. Quem acessa www.crimeexposouthafrica.co.za é desviado para outro endereço, www.realsouthafrica.co.za. Aqui, o internauta recebe informações sobre como cresceu o turismo na África do Sul, além de amplo noticiário sobre a chegada de novas empresas investindo no país.

Na home do site, Pieter Boshoff, empresário e economista que fez campanha contra o Crime Expo, escreve: "A África do Sul tem vários problemas. Nós sabemos disso e acreditamos que não devemos escondê-los. Mas todos precisam trabalhar juntos para superar estes problemas". Ele admite, e neste ponto concorda com Watson, que os maiores entraves são pobreza, criminalidade e Aids.

O movimento criado por Neil Watson teve que buscar outro domínio na rede. Agora, é possível encontrar as denúncias e relatos de crimes no seguinte endereço: http://www.crimexposouthafrica.org. Na quarta, as manchetes da página inicial eram "Assalto a Casa e Tortura", "Três Trabalhadores Assassinados, um Quarto Tem a Mão Decepada" ou mesmo "Agressão e Roubo".

Sinistro? Este é o objetivo do Crime Expo que, em seu site, ainda promete ajudar no funeral de quem se arriscar a ver a Copa do Mundo e passar deste para outro mundo da bola.

A discussão entre as autoridades sul-africanas e as organizações não-governamentais como a de Watson é sobre o que vem primeiro: a Copa do Mundo ajuda a diminuir a violência ou é preciso reduzir drasticamente o crime para organizar um Mundial?

Luciano Borges
Editor Chefe de Esportes na TV Bandeirantes
Publicado em 21 de Junho de 2009

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