quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

General Gonçalves Dias perde o comando da operação na Bahia

Greve






SALVADOR - O general Gonçalves Dias, comandante da 6ª Região do Exército, não dirige mais a operação de cerco aos PMs grevistas na Assembleia da Bahia. A informação é do blog do jornalista Ricardo Noblat, colunista do jornal O GLOBO. A operação será coordenada a partir de agora pelo Comando da 7ª Região Militar, que corresponde aos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Mais cedo, o comando do Exército comunicou que aumentou de 1.300 para 1.400 homens o efeitivo no cordão de isolamento que fechar todos os acessos ao Centro Administrativo da Bahia (CAB), onde está localizada a Assembleia Legislativa da Bahia - ocupada há uma semana por manifestantes do movimento. Segundo o porta-voz do comando, tenente coronel Márcio Cunha, o reforço conta com cerca de 150 agentes da Polícia Militar. Perguntado sobre o aumento de efetivo, o porta-voz disse apenas que foi "fruto de uma avaliação do Estado Maior", mas não deu detalhes sobre isso. Mesmo sem ser perguntado, o tenente-coronel Cunha afirmou que o general Gonçalves Dias continuava no comando da operação.

À tarde, uma tropa do Recife debelou um princípio de arrastão no bairro de Itapuã. Ainda segundo o porta-voz, foram restringidas as entradas de alimentos, remédios, água para os amotinados que permanencem no Legislativo, ao contrário de terça-feira, quando houve uma flexibilização do comandante da operação, o general Gonçalves Dias, que fez aniversário e se emocionou ao receber um bolo de presente dos grevistas. Segundo Cunha, os manifestantes não estão probidos de receberem atendimento - mas este deverá ser feito em uma ambulância do Exército, do lado de fora do prédio, sem possibilidade de retorno à Assembleia. O acesso de pessoal também está restrito: apenas agentes de segurança e jornalistas têm permissão para passar. Outras situações serão analisadas caso a caso - o objetivo, segundo o comando, seria facilitar o avanço das negociações.

O deputado federal Mendonça Prado (DEM-SE), presidente da Comissão de Segurança da Câmara, disse que foi impedido pelo Exército de entregar medicamentos para diabetes e de controle de pressão a dois grevistas que se encontram dentro da Assembleia Legislativa. Ele ameaçou acionar a comissão de Direitos Humanos da Câmara para garantir o acesso dos remédios e afirmou que nem em situação de guerra a força inimiga nega este direito ao adversário.

Ele disse ter sido comunicado por oficiais do Exército que manifestantes que querem receber atendimento médico terão de sair e se dirigir a uma das ambulâncias à disposição da operação e não poderão mais retornar ao prédio.

- Nenhum manifestante deixará de ser atendido ao precisar de cuidados médicos, alimentação e água. Mas os que saírem não voltam mais - assegura o tenente coronel Cunha, que até o momento contabilizou a saída de dez adultos e sete crianças da sede do Legislativo.

Os cerca de 500 policiais militares grevistas que estão nas proximidades da Assembleia ameaçam fechar a Avenida Paralela, via expressa que liga o aeroporto ao centro de Salvador. Nesta mesma via, aconteceu um buzinaço nesta madrugada, mas não há confirmação da participação de PMs neste protesto. A radicalização teria dois motivos: a falta de um acordo com o governo do estado para pôr fim à paralisação e o endurecimento do cerco do Exército à Assembleia.

Greve entra no nono dia sem acordo

Sem acordo entre o governo e os policiais militares, o clima começa a ficar tenso nesta quarta-feira, nono dia da greve. Depois de uma madrugada tranquila, manifestantes que estão do lado de fora da Assembleia Legislativa se desentenderam com homens do Exército, após eles mudarem a posição das cercas que estão ao redor do prédio.

A todo momento chegam mais viaturas com policiais militares em serviço para reforçar a segurança no Centro Administrativo da Bahia (CAB), o que cria animosidade com os familiares e PMs grevistas que estão no local.

Nesta madrugada, foi cortada a energia da Assembleia até as 0h30m.

Mais de 120 homicídios são registrados em Salvador e Região Metropolitana

O número de homicídios registrados em Salvador e Região Metropolitana chegou a 123, na manhã desta quarta-feira.

Nesta madrugada, segundo a Superintendência de Telecomunicações das Polícias Civil e Militar (Stelecom), uma jovem foi baleada na Avenida Barros Reis, por volta das 3h. Iris Patrícia dos Santos, de 19 anos, chegou a dar entrada no Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

Mais cedo, um homem com identidade ignorada foi assassinado no bairro da Ribeira. O corpo foi encontrado na Travessa Capitão Eugênio, por volta da 1h, com perfurações de bala.

Um balanço oficial deve ser divulgado com os resultados dos dias de greve pela Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA), na tarde desta quarta.

Proposta do governo é de reajuste de 6,5% retroativo a janeiro

O governador Jaques Wagner voltou a reforçar a proposta apresentada aos grevistas, em entrevista a uma emissora de televisão nesta manhã. A oferta é de reajuste de 6,5% retroativo a janeiro e o pagamento partilhado da GAP 4 e 5 entre 2012 e 2015, com a primeira parcela em novembro deste anos.

- Fizemos um esforço muito grande para garantir a GAP 4 a partir de novembro. Essa despesa (GAP 4 e 5) representa mais de R$ 170 milhões, é parte significativa do orçamento. Agora, eu só posso esperar que cada policial entenda que o estado tem um limite e não fruste a população da maior festa popular do mundo (o carnaval) - argumenta Wagner.

O presidente da Associação dos Policiais, Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra), Marco Prisco, disse, também em entrevista a uma emissora de televisão, que "os 6,5% é um aumento linear para todo servidor público, então o soldo (salário dos militares) fica abaixo do mínimo".

Prisco reforçou que os grevistas só entram em acordo com o governo se for revogada a prisão dos PMs baianos. A Justiça emitiu 12 mandados de prisão, sendo que dois policiais já foram detidos.

- Essa é uma questão que os policiais não querem nem sequer pensar em discutir. Quem pediu a prisão foi o governo, foi um ato político. Então, a Procuradoria do Estado pode pedir a revogação das prisões - disse.

Mais um PM deixou o acampamento nesta madrugada, totalizando oito desistências entre os manifestantes. Esse número não inclui as crianças que saíram do acampamento após determinação do Ministério Público.

Na saída, por volta de 2h50m, o policial militar baiano, que tinha uma pistola na cintura, foi identificado pelos militares do Exército e teve a mochila revistada. Tudo sob a supervisão de agentes da Polícia Federal. Ele não quis falar com imprensa e foi correndo até o próprio carro.

Chico Otávio


Fonte: Blog do Noblat

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