sábado, 31 de outubro de 2009

Droga e Violência

Especialistas não vêem ida do Exército como solução



Pesquisadores que estudam a criminalidade no Rio avaliam que a entrada das Forças Armadas no combate aos bandidos não evitaria episódios como a guerra travada ontem, no Morro da Mineira, por criminosos das facções Comando Vermelho e Amigos dos Amigos.

Em lugar da falta de policiamento, eles apontam a crise na economia da droga, com redução de mercados e fuga da clientela - assustada, paradoxalmente, pela violência -, entre as principais causas da intensificação das guerras entre traficantes pelos territórios. E acham que os militares, se envolvidos diretamente no enfrentamento do crime violento, poderiam gerar problemas ainda maiores do que aqueles que, teoricamente, combateriam.

“Não é botando soldadinhos no meio da rua que se vai resolver isso”, disse a cientista social Silvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. “Em certas ações, os militares poderiam contribuir para criar o caos.”

Para ela, “essa idéia do militar na rua, como vitrine, é muito ruim”. “Já colocar as Forças Armadas nas vias expressas, com patrulhamento e inteligência, pode funcionar.”A cientista social insistiu que os militares só deveriam agir em casos “muito pontuais, muito específicos”, deixando para a polícia a tarefa de enfrentar o banditismo.

“Erro é essa idéia de que o Exército vai tomar as ruas.” Silvia declarou que “não tem mágica”. São duas décadas de políticas inadequadas ou omissão total. É possível que, se começarem hoje, em três ou quatro anos, no fim deste governo, se comece a inverter a curva de crescimento (da violência).”

Outro estudioso da violência carioca, Ignácio Cano, considera “extremamente perigoso” envolver o Exército no combate à violência. “Na melhor das hipóteses, poderão diminuir alguns crimes de rua nas áreas para onde forem deslocados; na pior, levarão ao uso excessivo da força, porque militares são treinados para destruir o inimigo. Teríamos ainda mais vítimas.”

Para combater a criminalidade, afirmou, é importante mudar o foco dos crimes contra o patrimônio, que atingem em geral os mais ricos, para os crimes contra a pessoa, que têm os pobres como alvo. Um caminho seria fortalecer as delegacias de homicídio e corregedorias.

TRÁFICO EM CRISE

“O tráfico está em crise”, ressaltou Cano. “Paga cada vez menos e gasta mais com seguranças e armas. É uma das causas da expansão das milícias (paramilitares). Há um espírito de autodestruição. A dinâmica do conflito vai se acelerando.”

Silvia concorda. “As poucas áreas que ainda rendem dinheiro para os traficantes estão sendo disputadas à bala. Acho que vamos viver, ainda, momentos terríveis no Rio de Janeiro.”

Wilson Tosta, RIO

Nenhum comentário:

Postar um comentário