segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Segurança Policial

Após quatro ataques a PMRJ em 48 horas, especialistas criticam segurança de policiais


O prédio da Sul América Seguros, que fica perto da sede da prefeitura do Rio, ficou com várias marcas de tiros disparados pelos bandidos contra os policiais militares / Foto: Domingos Peixoto - O Globo

RIO - Especialistas na área de segurança afirmam que a falta de viaturas blindadas e de acesso a radiotransmissores fora dos carros expõe policiais militares ao risco de morte. Neste domingo, um sargento da PM foi morto e um soldado ficou ferido na Cidade Nova, no quarto caso em que policiais foram alvo de bandidos em menos de 48 horas. Ao todo, três PMs foram mortos e quatro feridos.

Para o ex-secretário nacional de Segurança coronel José Vicente da Silva Filho, as autoridades precisam dar mais atenção à qualidade dos equipamentos usados pelos policiais:

" É compreensível que o comandante da PM utilize carro blindado, mas não é justificável que os outros policiais também não tenham acesso a isso. "

- Os rádios usados pelos PMs não permitem nem o contato entre helicópteros e viaturas. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, já existe um sistema pelo qual os policiais podem avisar que foram atingidos apertando apenas um botão. As viaturas deveriam receber pelo menos meia blindagem, que protege as duas portas dianteiras, os vidros da frente e os laterais. É compreensível que o comandante da PM utilize carro blindado, mas não é justificável que os outros policiais também não tenham acesso a isso.

A blindagem de um carro não sai por menos de R$ 40 mil, segundo o dono da Safety Drive Blindagem, Luciano Gomide. Um serviço mais completo, com a proteção de todo o painel, pode chegar a R$ 60 mil.

- Os preços variam muito a partir da qualidade do material, como o vidro e a manta de aramida, que é mais cara do que o aço. O tipo de blindagem comum no Brasil suporta o tiro de uma pistola magno 44 ou 9 milímetros, mas não disparos de fuzil - ressalta Gomide.

Leia mais: Ex-policial militar é morto em Maricá

Um dos fundadores do Grupo dos Barbonos e ex-corregedor da PM, o coronel Paulo Ricardo Paúl afirma que, independentemente do valor, é preciso oferecer segurança aos policiais:

- A blindagem é cara, mas a vida do PM custa muito mais para sua família e para o próprio estado. O radiotransmissor é um equipamento de segurança. O policial deveria ter acesso a ele quando está fora do carro já que, dentro da viatura, ele fica mais visível e exposto.

Segundo o sociólogo Gláucio Soares, o alto índice de ataques a PMs nos últimos dias mostra que o perigo no Rio não é apenas iminente:

- O conflito é armado de ambas as partes e provoca baixas nos dois lados, além de atingir a sociedade civil. Foram décadas de descaso até chegar à situação atual e será muito difícil desfazê-la a curto prazo. Temos pelo menos dez anos pela frente.

Comandante-geral nega vulnerabilidade

Questionado sobre a eficácia dos rádios usados pela PM, o comandante do 1º Comando de Patrulhamento de Área, coronel Marcus Jardim, disse que não poderia se posicionar sobre o assunto.

O comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, que usa um veículo blindado, negou que o ataque deste domingo exponha uma vulnerabilidade dos policiais, sobretudo os que ficam em carros sem blindagem:

- Sempre foi assim ao longo das décadas e não há porque deixar de ser. A patrulha sai com rondas a cumprir, que são intercaladas por paradas periódicas. Não se reveste em entendimento que o policial tenha que estar desatento. O policial está atento, sempre ali, um homem na viatura e outro em pé perto do veículo.

Procurado pelo GLOBO para comentar os casos, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, não quis se pronunciar.
Câmeras de segurança poderão identificar criminosos

No fim da tarde de domingo, policiais do 3º BPM (Méier) fizeram operações Favela do Jacarezinho em busca dos suspeitos aos ataques aos PMs na Cidade Nova. A polícia espera identificá-los através de imagens das câmeras de segurança do prédio da Sul América, que também foi alvejado.

Há informações de que eles seriam dos morros Fallet e Fogueteiro e que esta seria uma resposta às prisões feitas por policiais do 1º BPM (Estácio) na comunidade. Tiros, que seriam de bandidos comemorando a morte do policial, foram ouvidos na comunidade pouco depois do ataque. Outra hipótese seria uma represália à morte do chefe do tráfico do Morro da Mineira, Anderson Timóteo, na sexta-feira, por PMs do Batalhão de Operações Especiais.

O 3º sargento Wilson Alexandre de Carvalho, do 1º BPM (Estácio), que foi atingido na cabeça e morreu na hora, será enterrado nesta segunda-feira às 12h na capela F do Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. Já soldado Davi de Almeida Wanzeler, ferido na perna e socorrido no Hospital da PM, não corre risco de morrer.


Cláudio Motta e Dandara Tinoco


Fonte: O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário