quarta-feira, 6 de abril de 2011

Aumento das mortes nas cidades do Entorno do DF

Nos três primeiros meses deste ano, foram registrados 173 assassinatos.

O aumento vertiginoso da criminalidade amedronta os moradores das cidades do Entorno. Um balanço trimestral divulgado pela Secretaria de Segurança Pública de Goiás aponta um crescimento de 26% nos registros de assassinatos em 15 dos 19 municípios goianos que formam a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride). Até março, foram 173 mortes, 36 a mais que no mesmo período do ano passado, quando 137 pessoas foram assassinadas. Sem saúde, educação, cultura ou segurança pública, a população de 1 milhão de habitantes se vê condicionada a conviver diariamente situações de vulnerabilidade. A cada dez dias, em média, 19 pessoas são assassinadas no Entorno.

À procura de trabalho no Distrito Federal, milhares de cidadãos têm de aceitar morar sob condições de risco, ou até insalubres, em ruas sem asfalto, abastecimento de água ou iluminação pública. Vizinhas do centro do poder, essas pessoas se tornam presas fáceis de assaltos, estupros e homicídios. Os índices computados pela Secretaria de Segurança Pública goiana mostram um aumento nas taxas da maioria dos crimes registrados pela Polícia Civil. No comparativo geral do estado, foram 863 registrados boletins de ocorrências a mais em 2011, o que representa um acréscimo de 20%, ou seja, 5.040 casos este ano contra 4.177, em 2010.

As mortes assinaladas nas cidades do Entorno superam as apresentadas como homicídio doloso. Segundo nota explicativa da secretaria, assassinatos resultantes de confrontos com policiais — prática comum em Goiás — não são contabilizados. Os números ganham contornos ainda mais dramáticos quando são somados os casos de latrocínios (roubo com morte) e as tentativas de homicídios, que, em vários casos, acabam em mortes após registradas. Nos primeiros 90 dias deste ano, seis pessoas morreram depois de serem assaltadas em Valparaíso (2), Águas Lindas (2), Formosa (1) e Santo Antônio do Descoberto (1). No ano passado, sete perderam a vida durante roubos em Luziânia (4), Alexânia (1), Novo Gama (1) e Águas Lindas de Goiás (1). Nas tentativas de homicídio, o índice de crescimento foi de 3%, ou seja, pulou de 121 em 2010 para 125 nos 15 municípios.

As assustadoras estatísticas levaram os governos do Distrito Federal, de Goiás e federal a implantar, em 23 de fevereiro deste ano, o Gabinete de Gestão e Integração de Segurança do Entorno do DF. A ideia é promover uma maior integração entre os três entes para permitir a redução das taxas. Os efeitos dos projetos oriundos dessa parceria, porém, devem começar a surtir efeito a longo prazo. “Tivemos um acréscimo de 30% na criminalidade em quatro cidades: Luziânia, Valparaíso, Novo Gama e Águas Lindas. Estamos avaliando os índices. Existem diversos fatores para o aumento e um deles é o tráfico de drogas.

O coroamento de um pacto é a definição de um orçamento do Fundo Constitucional para as cidades de Goiás próximas do DF. Precisamos estabelecer esse investimento. O valor seria de R$ 700 milhões por ano, dinheiro que também atenderia a educação e a saúde da região. Dessa forma, construiríamos um ambiente de cidadania”, pontua o coronel Edson Costa Araújo, que chefia o gabinete.

Combate

Medidas de combate à violência são tomadas sempre que os altos índices de criminalidade ameaçam os moradores. Em 2007, após uma série de reportagens do Correio sobre os crimes cometidos na região, a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça enviou 150 homens da Força Nacional de Segurança para Luziânia para reduzir os números. Agora, um convênio será assinado pelos governos do Distrito Federal e de Goiás até o fim deste mês. O acordo para que agentes da Polícia Civil e PMs do DF atuem em Goiás está em fase final de elaboração. Além disso, em 15 dias, o governo goiano deve oficializar no Ministério da Justiça outro pedido para garantir ajuda da Força Nacional.

“A Polícia Militar está com mais viaturas nas ruas. Estamos intensificando o trabalho nos fins de semana, combatendo o porte de arma de fogo. Mas, enquanto não houver uma decisão política de investir na região, as medidas serão apenas paliativas”, garantiu Edson Costa.

Titular da 5ª Delegacia Regional de Luziânia — responsável por 11 municípios goianos—, Juracy Pereira observa que, de janeiro a março do ano passado, Luziânia estava mobilizada a desvendar desaparecimento de sete adolescentes. “Havia a presença de agentes da Polícia Civil de Goiânia e da Polícia Federal nas ruas. É preciso analisar à fundo para saber se realmente cresceu.”

Comoção nacional

Em 16 de janeiro de 2010, o Correio publicou, com exclusividade, a primeira reportagem sobre o desaparecimento de jovens do Bairro Parque Estrela Dalva, em Luziânia. A matéria destacava o clima de medo que rondava a cidade que, à época, já registrava o sumiço de Diego Alves Rodrigues, 13 anos; Paulo Víctor Vieira de Azevedo Lima, 16; George Rabelo dos Santos, 17, Divino Luiz Lopes da Silva, 16; Flávio Augusto dos Santos, 14; Márcio Luiz de Souza Lopes,19, e Eric dos Santos, 15. Em 10 de abril de 2010, a polícia prendeu o pedreiro Ademar de Jesus Silva, 40, que confessou os crimes. No dia seguinte, o homem acompanhou os investigadores até a Fazenda Buracão, e indicou o local onde havia enterrado os corpos dos garotos.


Naira Trindade


Fonte: Correio Braziliense

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