quarta-feira, 4 de agosto de 2010

EDITORIAL

México e Brasil



O México era um país pacífico, com taxas criminais padrões das nações subdesenvolvidas, muito abaixo das da América Latina e distante mais ainda das verificadas no Brasil.

Mesmo fazendo fronteira com o maior consumidor mundial de cocaína, os Estados Unidos da América, esta nação não era influenciada negativamente pela viciada.

Contudo, após anos de combate ao tráfico de drogas via marítima pelos EUA, os traficantes resolveram fincar territórios nas cidades fronteiriças mexicanas, estabelecendo a era do terror nessas localidades e desestabilizando todo um país, social e politicamente.

Verifica-se no México a influência das Maras, gangues de adolescentes viciadas e traficantes, onde a violência extrema é sua principal propaganda. As Maras surgiram nas periferias das grandes cidades americanas, compostas por latinos americanos sem emprego e futuro, em um país estranho que não os respeitava como humanos, tendo o sonho americano no pensamento (ficar rico rapidamente) e tendo em comum a língua (espanhol).

Presos e trancafiados pela polícia americana, os integrantes de diversas gangues tiveram nos presídios a oportunidade de criarem uma grande organização (Maras). Na tentativa de exportar o problema os americanos expurgaram do seu território os integrantes dessas quadrilhas que, ao chegarem em seus países, assumiram a criminalidade e deslocaram para as fronteiras do México.

O governo mexicano, verificando que as suas polícias não estavam capacitadas para o enfrentamento desta organização criminosa, quer seja pelo pouco efetivo, armamento inferior, treinamento ineficaz e corrupção ativa, resolveu empregar suas melhores tropas, o Exército Nacional através das suas Forças Especiais.

No início o Exército ocupou, como manda os manuais militares, os locais de concentração criminosa, e iniciou o combate fogo contra fogo, aumentando de forma estrondosa as taxas de homicídios naqueles territórios. 

Com o passar do tempo verificou-se que esta estratégia apresentava falhas, visto que a tropa permanecia longo tempo em contato direto com os criminosos e começava a trocar de lado, principalmente devido ao fator monetário que era superior ao oferecido pelo Estado.

O pior cenário começa a acontecer, as forças do governo estão enfrentando as forças treinadas pelo governo a serviço dos traficantes. O problema que antes era social, localizado, merecendo uma atenção especial do governo, necessitando de altos investimentos em sua polícia, tornou-se uma ameaça a Nação.

No exato momento as tropas federais estão impotentes e as forças policiais continuam com a mesma estrutura que havia no início do problema. O agravante é que o Exército não consegue reduzir a troca de lado dos seus componentes. Ressalto que são os membros das Forças Especiais.

Neste momento a probabilidade de uma ruptura política no México, onde o tráfico assumirá o poder do Estado, é iminente. Os países fronteiriços com o México sentem-se ameaçados por serem as próximas vítimas e os Estados Unidos já planejam uma intervenção neste país, como condição de sobrevivência da sua população em um futuro não distante.

O Brasil deve observar o momento mexicano e atualizar suas táticas, visto que em passado recente foi proposto que as Forças Armadas deveriam combater o tráfico como o México está fazendo. Unidades do Exército Brasileiro estão treinando policiamento urbano no interior do Estado de São Paulo, através da premissa de garantir a Lei e a Ordem.

Ressaltamos que o contato das Forças Armadas com o tráfico promiscui suas tropas e corrompe seus líderes, como é o caso da Venezuela, Colômbia, Bolívia, Paraguai, Paquistão, Afeganistão e tantos outros países.

Crime Organizado se combate com polícia ostensiva nas ruas  e polícia investigativa na inteligência, em grande número, bem treinadas, equipadas e remuneradas de forma digna. Afinal, quem se voluntária para trocar tiros com traficantes por uma miséria de salário: Ninguém!

O que acontece no México irá acontecer no Brasil, visto que seremos uma nação de primeiro mundo nos próximos 20 anos e, em consequência, teremos o aumento do consumo de drogas (como os EUA) e seremos vizinhos fronteiriços de países pobres que fabricam e distribuem drogas (Bolívia, Paraguai, Colômbia, Venezuela, Equador, etc).

Concluindo, ou o Brasil investe urgentemente em mão de obra qualificada nas suas polícias ou emprega o seu Exército neste combate. O resultado de qualquer uma dessas medidas nós já sabemos, o que não se deve é esperar 20 anos para colocar em prática o que é emergente hoje.

Maquiavel sustentava que “o povo conspira com quem o protege”. Esta máxima independe se o protetor é um governo eleito democraticamente ou um narcotraficante imposto pelas mortes que causou. 

Pense no assunto e estude a respeito.


Major Giovanni Valente Bonfim Júnior

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